quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Como reconhecer um louco




Os loucos que por aí vagueiam, cujo objectivo é fazerem-se notar (mas sem a consciência de que o fazem) podem ser definidos por vários parâmetros.

1º- Um louco (se for rico ou novo-rico) acha sempre que tem grandes conhecidos no mundo dos famosos. Há sempre uma história que conta em que um famoso qualquer foi ajudado por ele a resolver qualquer coisa.
Exemplo: "Eu sou amigo do vizinho do "político x". Um dia ele não conseguia sair da garagem e eu fui lá tirar o meu carro que estava a bloquear a passagem. Se não fosse eu, ele ainda lá estava e nem tinha sido eleito". (Ok, utilizei aqui um certo exagero, mas dá para entender)

1.a- Se for um louco de classe baixa, terá sempre um familiar que andou/namorou/curtiu ou qualquer coisa sexual com uma beldade da TV (seja homem ou mulher).
Exemplo:"Tenho uma prima que andou com o "actor da telenovela x", eles eram para se casar mas ela disse que estava farta da fama".

Ressalva: Reparem que em cada um dos casos este tipo de loucura nota-se através da sobrevalorização da sua própria presença ou da presença de conhecidos na vida dos famosos. É o que chamo de "aparecismo" ou "querer aparecer".

Continua...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Carneiros injectados


Num jogo de futebol, os loucos proliferam como buracos numa estrada secundárias. Sejam as claques, sejam os frustrados que falam sozinhos como se alguém lhes prestasse atenção, há loucos para todos os gostos.
Num Benfica vs Belenenses, que fui ver com um amigo, fomos abordados por uma personagem simplesmente genial de tão louco que era. Estádio vazio, ocupamos dois lugares diferentes dos que vinham no nosso bilhete. Nem 10 minutos estivemos sentados quando se aproxima um senhor de boina castanha, samarra e óculos fundo de garrafa de Coca-Cola.
Olha para o bilhete, com o nariz bem perto das letras, olha para nós, olha para o bilhete:

-Boa noite. (sotaqueou ele em beirão)
-Boa noite. (dissemos nós)
-Exe lughár é meuh.

Levanto-me para mudar de lugar e a personagem senta-se mesmo ao lado de nós. A bancada onde estávamos encontrava-se vazia, logo aí olhei para o meu amigo e rimo-nos sozinhos, iamo-nos levantar quando o senhor agarra o meu amigo pela mão e começa a vociferar:

-Istu... Istu é culpa do Pinto da Costa! Em 1972 no Benfica-Salgueiros (babava-se ele) foi assim e depois fomos à Covilhã e depois foi o que foi. A culpa disto é dos carneiros injectados (cuspiu ele).

A culpa de quê?? Pensei eu, é que o jogo ainda nem tinha começado. Olhei para o meu amigo e ele tinha o casaco cheio de medalhas de saliva que sairam da boca do senhor. Entretanto ele continua:

-Boxês num sábem, mas istu é axim. O Benfica em Espinho e depois no jogo do Porto em Guimarães, tão a ver??

O jogo começa e o senhor cala-se. Por estar a apreciar bastante a personagem não mudámos de lugar. É que quando me deparo com pessoas tão sui generis tenho a o estranho prazer de alimentar as suas paranóias, concordar com elas e arranjar outras. Sinto-me como se estivesse a interagir com um sketch qualquer, então vou no papel e crio a minha própria personagem.
Estava nesta introspecção, quando o Belenenses quase que marca golo. O senhor levanta-se e começa a dar pinotes, com as mãos em cima do banco da frente (qual cabra do monte):

-Carneirus injectaduuuuuuuuuuuuus. Uuuuuuuuuuh! Isto é culpa do Pinto da Costaaaaaaaaaaa. (O senhor vira-se para trás, com o sangue nos olhos, completamente tresloucado e começa um monólogo)-Injectados..... Contra o Porto uuuuh nada, depois em 63 perdemos no jogo do Oriental, agora isto. Carneiros injectadoooooooos...

Perante tal demonstração de "indignação" louca do senhor, as pessoas à volta também se começam a rir e a concordar com ele, numa atitude displicente para ver se ele se calava, mas nada acalmava a fúria do homem dos óculos com lentes binoculares...
Nunca mais vi o senhor da samarra e dos carneiros injectados, mas ganhei para sempre um arquétipo de louco para qualquer argumento que eu pense em escrever.