quinta-feira, 30 de abril de 2009

Os An(no)jos


Este sábado fui a um evento de lançamento de um LCD da LG, com a presença da nossa plebe VIP (os loucos que sobrevivem em busca do aparecimento na imprensa) e reparei em algo que toda a gente deve de ver mas ninguém diz nada:
Eles não se gramam uns aos outros nem por nada deste mundo, aliás cruzam-se e olham-se com muito desprezo até que lá aparecem as flashadas e aí, nesse momento, são amigos para a vida inteira.

Nessa noite fui testemunha de um caso de loucura, que confesso nunca esperei vir da parte de quem o cometeu. Os tipos que formam o grupo Anjos, chegaram após umas modelos e enquanto os fotógrafos terminavam de captar as poses destas meninas (que convém frisar chegaram antes dos músicos), já estavam os Anjinhos a pousar para a foto muito impacientemente, até que têm um rasgo de indignação e saem do placard onde todos pousavam, muito sentidos com tamanha humilhação.

-Tivemos quase um minuto ali e ninguém nos tirou uma foto, agora já não tiramos.

Lá subiram as escadas da discoteca Kapital indignadíssimos. Mas que vidinha triste é esta destas pessoas que até ficam cansados e aborrecidos só de aparecerem? Olhei para os meus colegas jornalistas cujo trabalho é acompanhar este pessoal, e pensei no quão ingrato é este Jornalismo cor-de-rosa, não estou a criticar os meus colegas mas sim quem os coloca nesta posição.
Confesso que quando saí dali tinha vontade de desancar no papel, os meninos mimados auto-proclamados de Anjos, que tiveram uma falta de respeito pelos profissionais da imprensa que lá estavam, pois estes gajos chegaram uma hora depois do marcado (só a Joana Cruz chegou a horas) e ainda ficaram chateados por terem esperado 1 minuto para tirar uma foto.
Este para mim seria o "Quê" desta notícia e não o lançamento de um novo LCD com a presença de VIPs, mas ninguém nos deixa escrever isso porque se o escrevermos somos boicotados e censurados, para além de nos arriscarmos a nunca mais podermos ser acreditados para eventos semelhantes que não servem de nada, mas que dão uns bonecos muitos giros para o leitor (cliente que compra revistas) coleccionar.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Jean Claude Van Damme i'm good

Durante o tempo que vivi em Angola tive alguns encontros com os loucos mais loucos que alguma vez conheci. Esta é a história mais engraçada de que me lembro:

Estava eu e uns amigos no Mussulo a conversar, enquanto apanhávamos uns banhos de sol, quando vem um pescador ter connosco. Este personagem estava completamente grogue (fosse da bebida fosse da liamba) e, como mandam as regras da boa educação, berrou:
-Bom dia!! (ninguém respondeu, pois estávamos todos a conversar e muita gente nem ouviu)
-Bom dia pulas!! (pulas significa branco e, digamos, que não é um termo de boa educação, era como se eu dissesse "-Bom dia pretos")

Mas eu e outro amigo lá respondemos:
-Bom dia!!

Ele olha para mim e começa:
-Xé!!! Não estão na praia a pescar, é só ir buscar uma linha e meter na água em vez de estarem aqui sem fazer nada!!

Eu digo:
- Não pá!! Estamos aqui a descansar só.

O pescador:
-Vocês devem de ser espanhóis. E não disseram logo bom dia porquê? Eu sou angolano e Angola é nossa!! (disse ele já um pouco exaltado)

O meu amigo Tó Zé tentou acalmá-lo:
-Nós nem ouvimos, não percebes isso?

Eu:
-Vá não te chateies não te ouvimos pá!

O pescador:
-Vêm para aqui estrangeiros... Mas os piores são os chineses, esses fazem uma obra e nem temos de lhes pagar, só comida e bebida!

Às tantas porque ele nunca mais se calava, o pessoal começa-se a ir embora e ele vem a trás de nós a chatear, mas ninguém lhe ligava, até que eu me aproximo dele e ele começa:
-Xé!! Tu és gajo muito calmo, tinhas jeito para actor de hollywood... Fazes-me lembrar o governador da Califórnia, o Van Damme.

Quando ele disse isto, eu contive o meu riso e o Tó Zé também, mas ele lá continuou.
-Verdade!! Tu és muito boa pessoa, tu és quase Jesus Cristo... dá lá aí uma cerveja!

domingo, 19 de abril de 2009

"Avô Chico" pela pátria




Em honra ao meu avô Chico, que sofre de esquizofrenia desde que regressou da guerra ultramarina na Guiné, eu e muitos amigos meus temos um adjectivo que se aplica em situações de obsessão por parte de qualquer pessoa:

-Tu és o avô Chico dos livros!
-Tem lá calma e não sejas avô Chico!

Muitas pessoas podem ver neste termo um tom trocista, mas eu vejo-o como uma homenagem. Mais tarde os filhos dos meus filhos, ou mesmo os meus filhos, me irão perguntar o porquê deste termo e eu terei de explicar que ao meu avô Chico foi-lhe retirado o juízo na guerra, voltou uma pessoa diferente com a sanidade mental perturbada.
Nove anos depois do meu avô ter voltado da Guiné o grau de esquizofrenia aumentou, passou a fulminar com o olhar as pessoas objecto da sua injustificável raiva, passou a descobrir traições e indivíduos a trás das portas de casa, e passou a fazer do ambiente da sua família um verdadeiro inferno. As suas loucuras mais agressivas duraram muitos anos até que os médicos acertassem na dose de medicamentos que lhe pudesse condicionar a doença.
Agora não é mais do que uma muito boa pessoa, que outrora fora um bom pedreiro, mas com um juízo completamente afectado.
O meu avô Chico é o caso mais próximo que tenho de um louco heróico. Não digo que ter participado numa guerra sem sentido que tenha sido um acto heróico, mas o facto de ter perdido o seu espírito por uma obrigação do Estado faz dele um herói.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Perito em coisa nenhuma


Detesto pessoas que se acham especializadas em tudo, desde dança, a música, a política ou futebol. Acham que podem criticar tudo como se fossem os donos da verdade, porque se de facto podem opinar é importante saberem os seus limites.
Estão a ver aquelas pessoas que numa simples aparição de um músico famoso qualquer, num supermercado, o abordam para lhe dar conselhos sobre a sua música ou estilo? É mesmo esse tipo de pessoas de que falo.
A sua loucura demonstra-se em meras observações de quem os acompanha, seja amigo ou apenas conhecido, e a sua insanidade é despoletada por apenas uma frase.

Exemplo fictício: -Adoro o CD do Jason Mraz.
Reparem que a frase não foi "-Gostas do Novo CD do Jasos Mraz?", mas o louco que acha que entende de tudo iniciará uma longa dissertação crítica sobre o estilo surfista e despreocupado do artista em questão, e de que "-Realmente ele está a copiar algo que se fez no passado." (hello!!! a música já foi toda inventada, portanto não estás a dar novidade nenhuma) e de certeza que terminará a sua monstruosa argumentação com ele próprio, dizendo que "-O Jason Mraz é um músico medíocre e que em vez de Ukeléle devia de tocar guitarra".

Entre os loucos que conheci (e que conheço) tenho vários exemplos, desde uma pessoa que fez uma demonstração de fado porque achava que tinha uma grande voz (apenas porque alguém lhe disse que tinha cantado nas tunas), até uma pessoa que acha que só porque tirou um curso de dança (não falamos aqui de licenciatura, falamos de um curso privado sem habilitações reais) acha que está habilitada a ser dançarina, até um rapaz que iniciava qualquer argumentação com a frase "não, eu acho que não é bem assim" por muito que lhe tenhas dado argumentos históricos, matemáticos ou outros quaisquer que apresentassem factos exactos.
Não, meus amigos!! A estes loucos é impossível de contrariar, é impossível de os desmentir, é impossível de contra-argumentar, a razão está sempre do lado dos especialistas de coisa nenhuma, dos peritos de obras feitas. Esta loucura anda de mãos dadas com a mentira compulsiva, mais tarde explicarei porquê...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Loucura




"(...) Em terra de cegos quem tem olho é rei. Em terra de loucos quem tem juízo é louco...»
Mário de Sá-Carneiro, "Loucura...", Edições Rolim, Lisboa, 1990 (4ª ed.).

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Porque será que as pessoas têm a tendência de se empurrarem umas às outras quando entram nos transportes públicos? Eu sei que a pressa é muita e o tempo é pouco, mas o inconsciente empurrão é um sintoma de animal racional encurralado em fuga.

É frequente vermos este tipo de atitudes no dia-a-dia desta cidade, seja no trânsito,s ejas nos transportes, seja no café. Parece que as pessoas deixam de pensar e levam-se por um sentido qualuqer