domingo, 19 de abril de 2009

"Avô Chico" pela pátria




Em honra ao meu avô Chico, que sofre de esquizofrenia desde que regressou da guerra ultramarina na Guiné, eu e muitos amigos meus temos um adjectivo que se aplica em situações de obsessão por parte de qualquer pessoa:

-Tu és o avô Chico dos livros!
-Tem lá calma e não sejas avô Chico!

Muitas pessoas podem ver neste termo um tom trocista, mas eu vejo-o como uma homenagem. Mais tarde os filhos dos meus filhos, ou mesmo os meus filhos, me irão perguntar o porquê deste termo e eu terei de explicar que ao meu avô Chico foi-lhe retirado o juízo na guerra, voltou uma pessoa diferente com a sanidade mental perturbada.
Nove anos depois do meu avô ter voltado da Guiné o grau de esquizofrenia aumentou, passou a fulminar com o olhar as pessoas objecto da sua injustificável raiva, passou a descobrir traições e indivíduos a trás das portas de casa, e passou a fazer do ambiente da sua família um verdadeiro inferno. As suas loucuras mais agressivas duraram muitos anos até que os médicos acertassem na dose de medicamentos que lhe pudesse condicionar a doença.
Agora não é mais do que uma muito boa pessoa, que outrora fora um bom pedreiro, mas com um juízo completamente afectado.
O meu avô Chico é o caso mais próximo que tenho de um louco heróico. Não digo que ter participado numa guerra sem sentido que tenha sido um acto heróico, mas o facto de ter perdido o seu espírito por uma obrigação do Estado faz dele um herói.

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